domingo, 16 de agosto de 2009

AE BROADCAST - CENÁRIO-2: CONFIANÇA MENOR NOS EUA DEPRIME BOLSAS E FAZ DÓLAR SUBIR

AE BROADCAST - CENÁRIO-2: CONFIANÇA MENOR NOS EUA DEPRIME BOLSAS E FAZ DÓLAR SUBIR

O declínio na confiança dos consumidores dos EUA neste mês, após a queda das vendas no varejo no país em julho divulgada ontem, provocou realização de lucros nas Bolsas internacionais e na Bovespa. Os investidores também reduziram posições em commodities. Boa parte desses players migrou para o dólar e os Treasuries e os preços subiram.

Na Bolsa paulista, as vendas de ações foram limitadas pela disputa em torno do vencimento de opções sobre ações na próxima segunda-feira. No foco dessa briga estão principalmente Vale, que subiu, e Petrobras, que recuou, tendo como pano de fundo a baixa dos preços do petróleo no mercado externo. A petroleira brasileira anunciou após o fechamento dos mercados um lucro líquido de R$ 7,734 bilhões no segundo trimestre de 2009, o que representa uma queda de 20,4% em relação ao mesmo período de 2008 e um aumento de 33% ante o primeiro trimestre deste ano. Apesar do recuo final de 0,72%, o índice paulista apurou ganho de 0,55% em cinco dias e computou a quinta semana consecutiva de ganhos, acumulados em 15,07%.

O dólar à vista subiu, após três baixas seguidas, e valorizou-se na semana 1,59% no balcão e 1,73% na BM&F. No mercado de juros, os indicadores fracos nos EUA ampliaram o fluxo vendedor e as taxas tiveram perda expressiva. Diante do cenário favorável para os preços nos próximos meses, os prêmios para uma alta na Selic já nos primeiros meses de 2010 foram bastante reduzidos na curva.


BOLSA
Os Estados Unidos novamente entregaram indicadores mais fracos dos que as previsões, e hoje eles encontraram terreno fértil para levar as bolsas a uma realização de lucros. A Bovespa, que acompanhou o resultado negativo dos índices acionários norte-americanos, teve as vendas parcialmente neutralizadas pelo vencimento de opções sobre ações na próxima segunda-feira, que hoje já mostrou disputa mais forte nas blue chips Vale e Petrobras.

A Bolsa doméstica recuou 0,72%, aos 56.638,00 pontos. Apesar da queda de hoje, acumulou ganho de 0,55% em cinco pregões, pela quinta semana consecutiva de alta. Neste período, subiu 15,07%. No mês, a alta atinge 3,42% e, no ano, de 50,83%. Na mínima do dia, registrou 55.979 pontos (-1,87%) e, na máxima, 57.190 pontos (+0,25%). O giro financeiro totalizou R$ 5,434 bilhões.

Os balanços divulgados entre ontem e hoje até deram sustentação ao bom humor, garantindo ainda um pouco de ganhos à Bovespa no início dos negócios. Mas o dado do sentimento do consumidor preliminar da Universidade de Michigan fez os ventos mudarem. O indicador piorou em agosto, ao registrar 63,2, ante 66 em julho, 70,8 em junho, e abaixo da previsão de 69.

A leitura deste dado junto com a inflação ao consumidor medida pelo CPI mostrou que ainda é cedo para ter euforia com a recuperação econômica norte-americana. Os preços no varejo ficaram estáveis em junho no dado cheio e subiram 0,1% no núcleo, em linha, mas na comparação com julho de 2008, caíram 2,1% a maior queda em 12 meses já registrada desde janeiro de 1950. O núcleo do CPI subiu 1,5% em julho em comparação a julho do ano passado. Inflação sob controle é um dado bastante desejável, mas, em tempos de crise, é um indício de que a demanda está fraca e que vai demorar um pouco a recuperar-se.

Também saiu hoje a produção industrial norte-americana, que subiu 0,5% em julho ante junho. Embora seja a primeira alta desde outubro do ano passado, ela ficou abaixo das previsões, de +0,6%.

Com tudo isso, em Wall Street, o Dow Jones fechou em baixa de 0,82%, aos 9.321,40 pontos, o S&P 500 recuou 0,85%, aos 1.004,09 pontos, e o Nasdaq terminou com queda de 1,19%, aos 1.985,52 pontos.

Nova York também fez as bolsas europeias terminarem a sexta-feira em baixa, puxadas pelas perdas das ações de montadoras. Na bolsa de Londres, o índice FT-100 fechou em baixa de 0,87%, para 4.713,97 pontos. Na semana, acumulou queda de 0,37%. A bolsa de Frankfurt terminou com o Dax em baixa de 1,70%, para 5.309,11 pontos; na semana, caiu 2,75%. Em Paris, o CAC-40 perdeu 0,73%, para 3.495,27 pontos. Na semana, caiu 0,73%. O índice Ibex-35, de Madri, recuou 1,31%, para 10.901,90 pontos; na semana, perdeu 0,42%.

Vale lembrar que, na Europa, a Espanha apresentou hoje seu resultado do PIB trimestral. Ao contrário de França e Alemanha, que surpreenderam positivamente, os espanhóis anunciaram recuo de 1% na economia no segundo trimestre ante o primeiro e de 4,1% ante igual intervalo do ano passado - neste caso, a maior baixa desde os anos 1970.

No Brasil, a movimentação em torno do vencimento de opções sobre ações na próxima segunda-feira acabou trazendo volatilidade às ações, já que os investidores anteciparam a briga, principalmente em torno das blue chips. "Petrobras caiu bem menos do que o petróleo por causa do vencimento, assim como Vale subiu pela mesma razão", comentou o sócio e diretor de operações da Hera Investments, Nicholas Barbarisi.

A estatal divulgou após o fechamento do mercado seu balanço do segundo trimestre, no qual registrou lucro líquido de R$ 7,734 bilhões, o equivalente a uma queda de 20,4% em relação ao mesmo período de 2008 e uma alta de 33% na comparação com o primeiro trimestre deste ano. O resultado foi melhor do que os analistas ouvidos pelo AE Empresas e Setores esperavam, que era um lucro de R$ 6,37 bilhões.

O Ebitda do segundo trimestre somou R$ 17,513 bilhões, uma queda de 6% ante igual intervalo do ano passado. Já em relação aos primeiros três meses deste ano, quando o Ebitda totalizou R$ 13,423 bilhões, houve um avanço de 30,47%.

Petrobras ON caiu 0,51% hoje e PN, 0,43%. Na Nymex, o contrato do petróleo para setembro despencou 4,27%, para US$ 67,51 o barril. Vale ON subiu 0,81% e PNA, 0,90%. Os metais recuaram em Londres.

Bancos e siderúrgicas caíram: Bradesco PN, -0,73%, Itaú Unibanco PN, -1,53%, e BB ON, -0,48%, Metalúrgica Gerdau PN, -0,14%, Usiminas PNA, -2,97%, CSN ON, -1,93%. Exceção, Gerdau PN avançou 0,61%. O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) informou que a produção de aço bruto ficou em 2,495 milhões de toneladas em julho, o que representou uma queda de 22,8% ante o mesmo mês do ano passado. No ano, a produção acumula retração de 36,9%, para 13,061 milhões de toneladas. Em relação a junho, a produção cresceu 28,5%.

TAM PN liderou as perdas do Ibovespa ao recuar 6,69%. A empresa anunciou lucro líquido de R$ 788,9 milhões no segundo trimestre de 2009, um aumento de 134,1% ante igual período de 2008. O Ebitda somou R$ 55,4 milhões, com queda de 74%, e a margem Ebitda passou de 8,6% para 2,4%. Usiminas ON foi a segunda maior queda, com -5,70%, seguida por JBS ON (-4,34%).

Rossi Residencial ON liderou os ganhos do Ibovespa ao subir 2,50%, seguida por AmBev PN (+2,28%) e Pão de Açúcar PNA, com +2,03%.

Segundo Barbarisi, a agenda da próxima semana não é muito forte, o que abre espaço para a Bovespa, passado o vencimento, amplificar a realização de lucros vista hoje. "Faltam dados novos para as ações continuarem subindo. Se isso acontecer, a única explicação é o apetite elevado, sobretudo dos estrangeiros", comentou. (Claudia Violante)


CÂMBIO
O dólar no mercado à vista reverteu as perdas registradas no início do dia e fechou em alta, em meio à volta da aversão ao risco no mercado internacional, que amparou vendas de ações e de commodities e compras da moeda norte-americana e de Treasuries. Pesou para essa realocação de recursos o índice de sentimento do consumidor norte-americano, medido pela Universidade de Michigan, que caiu de 66,0 em julho para 63,2 em agosto e ficou aquém da previsão de alta para 69,0. A piora da confiança dos consumidores dos EUA anulou qualquer reação ao dado um pouco melhor de produção industrial de julho no país, que subiu 0,5%, levemente abaixo da taxa estimada de 0,6%. Este foi o primeiro aumento da produção industrial nos EUA desde outubro do ano passado.

Segundo um operador de uma corretora em São Paulo, os investidores realizaram lucros hoje porque a queda da confiança dos consumidores nos EUA este mês reforçou a percepção de que o ritmo de recuperação da economia é lento, uma vez que os gastos dos consumidores continuam fracos. Isto já foi constatado ontem através do dado que mostrou recuo de 0,1% das vendas no varejo no país em julho. Esses indicadores confirmam as avaliações do Fed, divulgadas na quarta-feira após a reunião de política monetária que manteve os juros dos Fed Funds na faixa de 0% a 0,25%, de que a economia está se recuperando mas permanecerá fraca por bom tempo e que o juro no país permanecerá "excepcionalmente baixo" por longo tempo.

No mercado doméstico, diante desses sinais externos, os investidores acompanharam a realização de lucros nas Bolsas norte-americanas com vendas de ações na Bovespa. Muitos players, principalmente os estrangeiros, migraram para o mercado de câmbio, onde compraram dólares e saíram do País a fim de investir em Treasuries, gerando fluxo financeiro negativo, disse um operador de Tesouraria de um banco estrangeiro. Outros agentes também reverteram vendas de dólar do começo do dia, em operações de day trade, e reforçaram compras de moeda no mercado futuro, num movimento de stop loss que levou a cotação a subir até as máximas de R$ 1,857 no mercado à vista e de R$ 1,862 (+1,89%) no vencimento de dólar para 1º de setembro/09, afirmou um profissional de tesouraria de um banco nacional.

O ajuste de alta das cotações, de outro lado, atraiu alguns exportadores à venda de dólar, deixando o fluxo comercial positivo, informou a fonte do banco local. "Ainda assim, o net do fluxo cambial acabou sendo mais negativo", observou.

O Banco Central ajudou de certa forma a dar fôlego à alta da moeda ao fazer o leilão de compra à tarde e ao fixar uma taxa de corte equivalente à máxima intraday à vista, de R$ 1,857.

No fechamento, o dólar subiu 1,15%, a R$ 1,853 no balcão, e ganhou 1,01%, a R$ 1,8525 na BM&F. Na semana, o pronto acumulou valorização de 1,59% no balcão e de 1,73% na BM&F. Esses desempenhos quase neutralizaram as perdas da moeda em agosto, que foram reduzidas para 0,64% e 0,56%, respectivamente.

O giro financeiro total registrado na Clearing de Câmbio somou cerca de US$ 1,150 bilhão, dos quais US$ 1,036 bilhão em D+2, informou um banco nacional.

No mercado futuro, o dólar para setembro/09 encerrou em alta de 1,40%, a R$ 1,8530; a mínima foi de R$ 1,822 (-0,30%) no início da sessão. Segundo a BM&F, este vencimento movimentou um giro de US$ 13,876 bilhões, de um total com cinco vencimentos (todos em alta) negociados de US$ 13,941 bilhões.

Segundo a fonte do banco estrangeiro consultado, as compras de hoje foram feitas a preços considerados atrativos, uma vez que o dólar chegou a ceder no começo do dia até R$ 1,818 (-0,76%) no balcão e a R$ 1,820 (-0,76%) na BM&F. Por isso, é possível que, se o ambiente externo recuperar o otimismo na próxima semana, uma vez que a agenda será mais fraca, o mercado de câmbio poderá devolver essas posições compradas para realizar ganhos e retomar o sinal de baixa.

No mercado internacional de moedas às 18h10 o euro caía 0,46%, a US$ 1,4203; a libra esterlina recuava 0,17%, a US$ 1,6543; e o dólar perdia 0,24%, a 94,94 ienes. No segmento de títulos do Tesouro norte-americano, a demanda por papéis amparou o avanço dos preços e a queda respectiva dos juros. A taxa do T-Note 2 anos às 18h11 cedia 2,24%, a 1,0601%; o juro do T-Note 10 anos caía 0,99%, a 3,5711%; e o juro do T-Bond 30 anos recuava 0,33%, a 4,4319%.


JUROS

Os principais contratos de juros futuros encerraram a semana em níveis bem abaixo dos verificados na última sexta-feira, graças principalmente às quedas acumuladas nas duas últimas sessões. O movimento, que começou a ganhar força a partir da decisão do Fomc na quarta-feira, culminou hoje com mais uma leva de indicadores fracos nos EUA. A isso somou-se o cenário de inflação doméstica favorável a um ciclo longo de estabilidade da Selic para estimular a redução dos prêmios adicionados na curva para uma alta da taxa básica nos próximos meses.

Nesta sexta-feira, os DIs registraram queda forte, acelerada na parte final da negociação estendida, quando os principais contratos renovaram as mínimas. Segundo operadores, houve tanto zeragem de posições tomadas quanto fluxo novo de vendas, sobretudo de players locais. O DI janeiro de 2011 (186.555 contratos) fechou a 9,60%, ante 9,71% ontem e o DI janeiro de 2012 (67.075 contratos), terminou na mínima de 10,86%, de 10,97% e 10,98% no ajuste e fechamento ontem. O DI janeiro de 2010 (109.035 contratos) recuou para 8,58%, de 8,61% ontem. Na sexta-feira da semana passada, estes contratos tinham respectivas taxas de 9,88%, 10,98% e 8,68%.

Em boa medida, a curva tem acompanhando o movimento visto nos Treasuries, que desde ontem vêm mostrando elevação de preço e recuo nos yields. Parte deste comportamento é atribuído aos indicadores econômicos abaixo do esperado. Após a decepção do mercado ontem com a redução inesperada das vendas no varejo em julho nos EUA, hoje outra variável relacionada ao consumo frustrou. O índice preliminar de agosto da Reuters/Universidade de Michigan sobre o sentimento do consumidor caiu para 63,2, de 66 em julho e de 70,8 em junho. Economistas ouvidos pela Dow Jones esperavam avanço para 69. Outros índices também caíram em agosto. O índice preliminar das condições atuais cedeu para 64,9, de 70,5 em julho, enquanto o índice de expectativas caiu para 62,1, de 63,2 em julho. Ainda, o mercado viu o recuo de 2,1% no
índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) em julho ante julho do ano passado, a maior queda em 12 meses já registrada desde janeiro de 1950, como mais um sinal de fraqueza da economia.

Os números colocaram as ações e as commodities em rota de queda, ajustando o otimismo recente. Em Wall Street, Dow Jones e S&P 500 cederam 0,82% e 0,85%, enquanto os Treasuries exibiram alta nos preços e queda nos juros. A T-Note de dez anos recuou a 3,572%, de 3,606% ontem.

"O cenário hoje reflete uma correção do exagero das bolsas, que também acabou pressionando a curva do DI nos últimos dias. O mercado de juros parece voltar a focar nos fundamentos, como o cenário benigno para a inflação", afirma o analista econômico da CM Capital Markets Luciano Rostagno.

Diante do choque de realidade que os mercados externo estão vivendo - na Europa, foi divulgado o recuo de 4,1% no PIB da Espanha no segundo trimestre -, torna-se cada vez mais distante a possibilidade de haver uma onda de aperto monetário pelo mundo nos próximos meses e isso dá conforto aos vendedores no mercado de juros. "O mercado está deslocando a aposta de elevação do juro mais para o segundo semestre de 2010", diz Rostagno, acrescentando que os prêmios para uma contração monetária já nos primeiros três meses do ano que vem já caíram bastante. Para a decisão do Copom de janeiro, por exemplo, a precificação para um aumento da Selic, que chegou a 0,5 ponto, desacelerou para cerca de 0,15 ponto.

No entanto, ainda que a perspectiva para os preços aqui seja favorável, ele não aposta em uma migração do quadro atual de apostas para o próximo Copom, de estabilidade para uma nova queda da taxa básica, em setembro. "Espaço (para mais corte) há, mas não acredito que o BC vá fazê-lo nem que o mercado vá se aventurar em peso nessa aposta. O BC poderia reduzir agora, mas teria de subir mais o juro lá na frente. Não me parece que ele (BC) queira uma política monetária volátil, e sim estável", diz. Os DIs de curto prazo, afirma o economista, continuam precificando manutenção da Selic ao longo de 2009.

A postura do Copom traduzida na ata da reunião de julho e a recuperação, ainda que inconsistente, da atividade interna são outros argumentos que sustentam a percepção de que o ciclo de afrouxamento do juro de fato acabou, principalmente porque o Banco Central quer avaliar os efeitos defasados sobre a economia de ter colocado a Selic na mínima histórica de 8,75%.

Nesta tarde, Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO) informou que as vendas de papelão ondulado no mês passado somaram 194 mil toneladas, segundo dados preliminares. O resultado representa uma expansão de 3,78% em relação ao dado atualizado de junho (186,9 mil toneladas), mas queda dos mesmos 3,78% ante julho do ano passado. O resultado de julho é o melhor indicador de vendas do setor este ano, superando a marca do mês anterior.

O calendário da próxima semana será importante para testar a tendência vista nesta sexta-feira. Vários índices de inflação sairão ao longo dos próximos dias - IGP-10 (terça-feira) e IGP-M (2ª prévia de agosto na sexta-feira), mas a grande expectativa são os números do mercado do trabalho no Brasil. Na semana que vem, será conhecido o Caged de julho, em data ainda não definida, e na quinta-feira o IBGE informa a pesquisa mensal de emprego também de julho. Também na quinta-feira, a Receita Federal informa o resultado da arrecadação em julho, que merecerá toda a atenção nos atuais tempos de preocupação com o quadro fiscal.

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