sábado, 13 de junho de 2009

BC traz SELIC a 9,25% cortando 1%. E agora?


A taxa SELIC tem grande importância e peso na economia brasileira. É a principal ferramenta do governo na formulação e aplicação da política monetária, que tem como finalidade regular o valor da moeda. E por isso é também base da política fiscal, que tem como objetivo estabelecer os limites do governo quanto ao endividamento público e externo e investimentos das diversas áreas sob gestão pública, afinal o valor da moeda é fundamental na hora de pagar uma conta feita lá atrás. Através da regulação da taxa SELIC que o governo atua no combate a inflação e no estímulo a economia.

O mecanismo de controle da inflação que se aciona mediante a utilização da SELIC é o de custo do crédito. Uma vez que a SELIC serve de base para a formação do custo do crédito público e privado. Na medida em que o governo eleva ou reduz a taxa SELIC, aumenta ou diminui o custo do crédito. Ou seja, fica mais caro ou mais barato tomar empréstimos ou financiamentos para consumir ou investir. No caso de um aumento, fazendo com que se reduza o ímpeto de consumo e assim se reduza também a demanda por bens e serviços. E vice-versa. E daí?

Daí que a relação entre a oferta e a demanda é o que define o preço de tudo. Num país como nosso onde a indústria ainda é emergente e dependemos muito de produtos e insumos importados para suprir nossas demandas, um excesso de crédito gera um desequilíbrio entre a o que as pessoas querem e podem comprar e o que nossa produção doméstica tem a oferecer em toda sua cadeia. Gerando pressão inflacionária ou desajustando a balança comercial.

Com cinco pessoas querendo levar um produto para casa e só três produtos disponíveis o comerciante vai aumentar o preço até se ajustar a demanda, ou seja, até onde os três que querem mais se disponham a pagar de prêmio além do valor normal para ficarem com o produto. Porém, ao mesmo tempo, o comerciante vai exigir maior escala do fornecedor, que sentindo a pressão dos clientes vai também vai aumentar o preço, já que provavelmente as matérias primas desse produto também vão estar inflacionadas pela demanda.

E este desequilíbrio influencia em toda cadeia. Primeiro no desajuste do valor da moeda, que resulta na inflação ou deflação. Ou seja, não se consegue comprar o mesmo número de itens desses produtos com o mesmo número de unidades monetárias. Segundo impacta na balança comercial e consequentemente no cambio e na formação de reservas. Isto porque além de muitas linhas de produção precisarem de insumos importados, muitos desses produtos sob pressão de demanda são importados já acabados. E todos estes fatores geram stress numa cadeia gigantesca que impacta na vida de qualquer cidadão.

Na última reunião o Comitê de Política Monetária, o COPOM, optou por um corte de 1% na taxa SELIC. Um corte maior do que o esperado pelo mercado, que aguardava algo entre 0,5% e 0,75%. Também um corte simbólico e com forte apelo a diversas interpretações e especulações. Primeiro porque traz a taxa SELIC para um valor abaixo de 10% pela primeira vez em mais de 25 anos. Segundo porque acontece em um momento onde o mercado como um todo espera atento e sedento por sinais e indicadores que dêem qualquer sinal ou dica de como esta a saúde econômica do nosso país.



E agora!? Um corte de 1% neste momento é bom ou é ruim? Em que implica este corte?
Podemos tomar a grosso modo dois caminhos para análise.

Primeiro o de que o Banco Central está mantendo sua estratégia de corte com a finalidade de manter a economia doméstica aquecida deixando um pouco de lado a questão inflacionária até que se tenha uma retomada da economia mundial. Ou seja, cortou para dar continuidade a um cronograma estratégico provavelmente já negociado entre as diversas esferas do poder público e privado e flexibilizou um pouco a questão da inflação para priorizar a oxigenação da economia. O que seria a alternativa boa.

Segundo, e mais temerário, o governo está sentindo que há um enfraquecimento maior do que o previsto na demanda e com isso precisa agir com mais força. O corte de 1% pode ser uma medida agressiva numa tentativa de não deixar a confiança do consumidor cair e estancar o consumo num momento bastante delicado.

Porque o momento é delicado? Imaginem a economia do mundo como uma pessoa que subia uma longa escadaria. Em determinado momento sente confiança e começa a correr escada acima. Sente mais confiança ainda e agora salta de dois em dois degraus. Porem, o excesso de confiança faz com que tropece e caia rolando e se debatendo quase que metade dessa escadaria até que chega num degrau mais largo e reduz a velocidade da queda. E quando sente que a velocidade reduziu começa a tentar se segurar no corrimão e a realizar manobras para se estabilizar e já tentar voltar a subir a escada. Mas está ainda atordoado, dolorido e sem confiança. E ao mesmo tempo em que tenta com todas as forças se estabilizar tem que se concentrar para localizar os ferimentos da queda.

Neste momento a economia mundial está como o nosso desastrado. Apesar de já ter conseguido assumir uma posição confortável para voltar a subir ainda está atordoada, cambaleante e recém começa a identificar os ferimentos reais e a gravidade deles. Esse receio de que mesmo que volte a subir agora algum ferimento se agrave logo nos primeiros degraus, levando suas forças e fazendo com que o frágil equilíbrio atingido nos últimos meses se vá e ela volte a cair escada abaixo é o que tem desajustado o fluxo financeiro mundial.

Tendo em vista este possível cenário, na dúvida, o mercado não se posicionou perante a decisão COMPOM e nesta sexta-feira o mercado trabalhou sem levar em conta o resultado da reunião.

Existem muitos fatores que levam o mercado a confiar e desconfiar do atual momento. Para desconfiar, a alta expressiva da BOVESPA é um deles. Nossa bolsa sofre grande influencia das commodities. E estas por sua vez tendem a acelerar em momentos de desequilíbrio financeiro. Isto porque em momentos de desconfiança no sistema financeiro os investidores migram para ativos da economia real e pressionam seus preços. Com as commodities em alta nossa bolsa acompanha. Porem, essa bonança quase sempre precede a tempestade.

Com isso resumo que para quem segue a filosofia do “Carpe Diem” o mercado está propício aos bons negócios até que a tempestade se apresente. Mas para quem busca fundamentos econômicos para lastrear seus investimentos o momento é de fortes emoções e calafrios.

Nenhum comentário: